terça-feira, 15 de setembro de 2009

Laços Eternos



Laços Eternos
Hoje, ao atender o telefone que insistentemente exigia atenção,o meu mundo desabou.Entre soluços e lamentos, a voz do outro lado da linhame informava que o meu melhor amigo,meu companheiro de jornada, meu ombro camarada,
havia sofrido um grave acidente,vindo a falecer quase que instantaneamente.Lembro de ter desligado o telefone,e caminhado a passos lentos para meu quarto, meu refugio particular.As imagens de minha juventudevieram quase que instantaneamente a mente.A faculdade, as bebedeiras, as conversas em volta da lareiraaté altas horas da noite, os amores não correspondidos,as confidencias ao pé do ouvido, as colas,a cumplicidade, os sorrisos...AHHHHH... os sorrisos....Como eram fáceis de surgir naquela época.Lembrei da formatura, de um novo horizonte surgindo...das lágrimas e despedidas,e principalmente, das promessas de novos encontros.Lembro perfeitamente de cada feição do melhor amigoque já tive em toda a vida: em seus olhos a promessade que eu nunca seria esquecida. E realmente, nunca fui.Perdi a conta das vezes em queele carinhosamente me ligavaquando eu estava no fundo do poço. Ou das mensagens - que nunca respondi -que ele constantemente me enviava,enchendo minha caixa postal eletrônica de esperançase promessas de um futuro melhor.Lembro que foi o seu rosto preocupadoque vi quando acordei deminha cirurgia para retirada do apêndice.Lembro que foi em seu ombroque chorei a perda de meu
amado pai.Foi em seu ouvido que derrameias lamentações do noivado desfeito.Apesar do esforço para vasculhar minha mente,não consegui me lembrar de uma só vezem que tenha pego o telefone para ligare dizer a ele o quanto era importante para mimcontar com a sua amizade.


Afinal, eu era uma
mulher muito ocupada.Eu não tinha tempo.Não lembro de uma só vez em que me preocupei de procurar um texto edificante e enviar para ele,ou qualquer outro amigo,com o intuito de tornar o seu dia melhor.Eu não tinha tempo.Não lembro de ter feito qualquer tipo de surpresa, como aparecer de repente com uma garrafa de vinhoe um coração aberto disposto a ouvir.Eu não tinha tempo.Não lembro de qualquer dia em queeu estivesse disposta a ouvir os seus problemas.Eu não tinha tempo. Acho que eu nunca sequer imaginei que ele tinha problemas.Não me dignei a reparar que constantementemeu amigo passava da conta na bebida.Achava divertido o seu jeito bêbado de ser.Afinal, bêbado ou não ele erauma ótima companhia para mim.Só agora vejo com clareza o meu egoísmo.Talvez - e este talvez vai me acompanhar eternamente- se tivesse saído de meu pedestal egocêntricoe prestado um pouco de atenção e despendido um pouquinho do meu sagrado tempo,meu grande amigo não teria bebido até não agüentar maise não teria jogado sua vida fora ao perder o controlede um carro que com certeza,não tinha a mínima condição de dirigir.Talvez, ele, que sempre inundou o meu mundocom sua iluminada presença,estivesse se sentindo sozinho.Até mesmo as mensagens engraçadasque ele constantemente deixavaem minha secretaria eletrônica,poderiam ser seu jeito de pedir ajuda.Aquelas mesmas mensagens que simplesmenteapaguei da secretaria eletrônica,jamais se apagarão da minha consciência. Estas indagações que inundam agorao meu ser nunca mais terão resposta.A minha falta de tempo me impediu de respondê-las. Agora, lentamente escolho uma roupa preta- digna do meu estado de espírito e pego o telefone.Aviso o meu chefe de que não irei trabalhar hojee quem sabe nem amanha, nem depois...,pois irei tirar o dia para homenagearcom meu pranto a uma das pessoas que mais amei nesta vida.
Ao desligar o telefone, com surpresa eu vejo,entre lágrimas e remorsos, de que para isto,para acompanhar durante um dia inteiroo seu corpo sem vida, eu TIVE TEMPO!Descobri que se você não toma as rédeas da tua vidao tempo te engole e te escraviza.Trabalho com o mesmo afinco de sempre,mas somente sou "a profissional" durante o expediente normal.Fora dele, sou um ser humano.Nunca mais uma mensagem da minha secretaria eletrônicaficou sem pelo menos um "oi" de retorno.Procuro constantemente encher a caixa eletrônicados meus amigos com mensagens de amizade e dias melhores.Escrevo cartões de aniversario e de natal,sempre lembrando as pessoas de como elassão importantes para mim.Abraço constantemente meus irmãos e minha família,pois os laços que nos unem são eternos.Esses
momentos costumam desaparecer com o tempo, e todo o cuidado e pouco."

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